Centro de Kazanlak (foto daqui) |
O meu nome é Nina. Tenho 27 anos e sou
da Bulgária. Nasci em Kazanlak. É uma cidade conhecida como “cidade
das rosas”, porque nela se produz óleo de rosa. Para se produzir 1 quilo de
óleo de rosa são precisas 2 a 3 toneladas de rosa damascena. Também temos uma fábrica
de armas, chamada “Arsenal”, onde são é feita a AK 47 (mais conhecida como Kalashnikov).
Por isso, eu gosto de lhe chamar “Guns N' Roses”.
Em Kazanlak temos um túmulo trácio, que
faz parte do património mundial da UNESCO e há outras ruínas antigas perto
da cidade. O meu pai é um ex-militar. Agora é professor
numa escola secundária e dá cursos de condução. A minha mãe é gerente
de um supermercado. Tenho uma irmã dois anos mais nova que eu. Sinto
muitas saudades da minha família e do meu cãozinho também.
Quando tinha 19 anos, saí de casa e fui
estudar em Varna, uma cidade grande no Mar Negro. Eu sou muito trabalhadora e
sempre trabalhei para pagar os meus estudos. No primeiro ano do meu mestrado,
decidi participar no programa Erasmus. Ganhei uma bolsa de estudos para Koper, na
Eslovénia, uma cidade linda no Mediterrâneo. Ali conheci o meu ex-namorado, o
Gonçalo, um rapaz português muito inteligente e cuidadoso. Ele estava a estudar
Psicologia. Nós começámos a fazer planos para continuar a
nossa relação depois do Erasmus. Ele disse-me que havia a oportunidade de fazer um
estágio na faculdade dele (o ISMAI) e eu consegui ganhar mais uma bolsa de
Erasmus e vim para Portugal.
Festival da rosa damascena (foto daqui) |
Mas quando uma princesa encontra o seu
príncipe nem sempre tudo é como nos contos de fadas. Foi diagnosticado ao
Gonçalo o Sarcoma de Ewing, um tumor maligno muito raro nos ossos. Eu
estive sempre ao lado dele. No início tinha a perspetiva de que tudo ia correr
bem. Ele fez quimioterapia e, logo depois, cirurgia. O médico disse que a
cirurgia tinha sido um sucesso, mas na realidade foi um erro enorme. No Natal
recebemos a pior prenda possível: o cancro já estava no corpo todo.
Regressei à Bulgária só para
fazer alguns exames na Faculdade e voltei a Portugal para cuidar do Gonçalo. Ele
era um rapaz muito forte e calmo. Comecei a dormir numa cadeira no quarto
dele, no Hospital de Santo António. Passei os últimos meses da sua vida junto
dele. No dia 12 de junho, uma nova estrela começou a brilhar forte no céu.
Foi uma etapa muito difícil para mim e para
a sua família, mas também para a minha família. A mãe do Gonçalo
pediu-me ficar em casa dela, pelo menos nesse verão. Eu arranjei um emprego no
NorteShopping, onde estou a trabalhar ainda. Comecei a aprender português
falando com os clientes. O primeiro ano correu com muita dificuldade. Mas a
vida continua…
Túmulo trácio de Kanzalak (foto daqui) |
Entretanto, encontrei muitas amigas
aqui. Comecei a fazer ginásio, coisa que odiei toda a vida, mas que agora me
faz sentir calma e relaxada. Já há um ano que não falto ao ginásio e estou
muito orgulhosa com isso. Perdi uns 15 quilos, que tinha ganho aqui. Já
passaram dois anos desde ele partiu. Eu ainda moro com mãe dele, mas para
futuro quero ter uma casa minha e um emprego melhor.
Às vezes, a nossa vida segue numa direção
muito diferente da que pensávamos seguir. Eu nunca imaginara viver em Portugal.
Não tinha sequer o objetivo de sair da Bulgária. Ainda não sei se vou
continuar a viver cá, mas Portugal vai estar sempre no meu coração.
Nina Petrova Gancheva