quarta-feira, 22 de junho de 2016

DA CRIMEIA PARA PORTUGAL

Castelo da Crimeia (foto daqui)
O meu nome é Lyudmila e tenho 39 anos. O meu marido é o Sergiy e tem 40. Ambos fazemos parte da mesma turma de Português. Vivemos em Leça da Palmeira, num apartamento relativamente próximo da igreja. Estamos casados há 22 anos e temos dois filhos, ambos rapazes... O Dimitry, que vai fazer 21 anos, e Diniz, que tem 7. 

Somos oriundos da Crimeia, de Feodósia, uma terra que outrora pertenceu à Ucrânia, mas que neste momento é território russo. Feodósia também fica relativamente próxima do mar (do Mar Negro e de Azov). Portanto, estamos habituados a viver próximos da praia.  

Crescemos numa aldeia. Vivemos sempre uma vida bastante humilde, simples e tranquila. Acabamos por crescer mais rápido do que o habitual por todo o tipo de responsabilidades que tínhamos lá e porque a nossa infância foi muito diferente da que tentamos proporcionar aos nossos filhos.  

Um pouco infelizes com a nossa vida, e na expetativa de tentar melhorá-la, decidimos imigrar para Portugal. Portugal era um país que recebia bastantes imigrantes e a qualidade de vida era superior à que tínhamos lá...

Já passaram 15 anos desde que viemos. Na altura, as coisas eram mais complicadas e deixámos o nosso filho mais velho com a avó, para que pudéssemos trabalhar a tempo inteiro sem ter a preocupação de tomar conta dele e porque, de certa forma, queríamos que ele tivesse pelo menos a mesma educação que nós: aprender a respeitar e a dar valor às pequenas coisas. Quando ele fez 11 anos, a nossa vida já estava razoavelmente endireitada para termos a oportunidade de o trazer para junto de nós.  
Crimeia (foto daqui)

Sem ele parecia que o tempo custava a passar, sentíamos imensas saudades e ansiávamos pelo dia em que finalmente tivéssemos o suficiente para que ele pudesse vir também.

Eu e o meu marido trabalhámos imenso e já passámos por bastantes dificuldades. No entanto, havia sempre alguém que nos dava ânimo para continuarmos a acreditar e nos ajudava a progredir. Com a nossa vontade de viver, e por tudo o que conseguimos alcançar, nasceu o nosso segundo filho, Diniz, e a vida prosseguiu... 

Hoje continuamos a fazer os possíveis para ajudar os nossos filhos, para que eles tenham uma vida melhor que a nossa. O Dimitry sabe a nossa língua, porque foi lá que cresceu. A mudança para cá foi um pouco complicada para ele: era tudo novo e não consigo sequer imaginar o que ele sentiu por ter de lidar com a diferença... Com o tempo ele encontrou outros imigrantes do nosso país, o que o ajudou a integrar-se em Portugal. Já o Diniz nasceu cá, tem nacionalidade portuguesa, mas anda na escola russa aos sábados, para que não esqueça a sua origem.  

Praia da Crimeia (foto daqui)
Em agosto planeamos ir à nossa terra, passar férias, aproveitar a altura do ano que faz mais calor e recordar o nosso mar lindo, os verões de antigamente (quando as coisas eram quando não tínhamos nada do que temos agora).  

Resumidamente, a nossa vida deu muitas voltas e neste momento estamos bastante felizes com o que possuímos. Tudo correu pelo melhor!

Lyudmila Kvastikova