Castelo da Crimeia (foto daqui) |
O meu nome é Lyudmila e tenho 39 anos. O meu marido é o Sergiy e tem 40. Ambos
fazemos parte da mesma turma de Português. Vivemos em Leça da Palmeira, num apartamento relativamente próximo da igreja. Estamos casados há 22
anos e temos dois filhos, ambos rapazes... O Dimitry, que vai fazer 21
anos, e Diniz, que tem 7.
Somos oriundos da Crimeia, de Feodósia, uma terra que outrora
pertenceu à Ucrânia, mas que neste momento é território russo. Feodósia
também fica relativamente próxima do mar (do Mar Negro e de Azov). Portanto, estamos
habituados a viver próximos da praia.
Crescemos numa aldeia. Vivemos sempre uma vida bastante humilde, simples e
tranquila. Acabamos por crescer mais rápido do que o habitual por todo o
tipo de responsabilidades que tínhamos lá e porque a nossa infância foi muito
diferente da que tentamos proporcionar aos nossos filhos.
Um pouco infelizes com a nossa vida, e na expetativa de tentar melhorá-la,
decidimos imigrar para Portugal. Portugal era um país que recebia bastantes
imigrantes e a qualidade de vida era superior à que tínhamos lá...
Já passaram 15 anos desde que viemos. Na altura, as coisas eram mais
complicadas e deixámos o nosso filho mais velho com a avó, para que pudéssemos
trabalhar a tempo inteiro sem ter a preocupação de tomar conta dele e porque,
de certa forma, queríamos que ele tivesse pelo menos a mesma educação que nós:
aprender a respeitar e a dar valor às pequenas coisas. Quando ele fez 11 anos,
a nossa vida já estava razoavelmente endireitada para termos a oportunidade de
o trazer para junto de nós.
Crimeia (foto daqui) |
Sem ele parecia que o tempo custava a passar, sentíamos imensas saudades e
ansiávamos pelo dia em que finalmente tivéssemos o suficiente para que ele
pudesse vir também.
Eu e o meu marido trabalhámos imenso e já passámos por bastantes
dificuldades. No entanto, havia sempre alguém que nos dava ânimo para continuarmos a acreditar e nos ajudava a progredir. Com a nossa vontade de viver, e por tudo o que
conseguimos alcançar, nasceu o nosso segundo filho, Diniz, e a vida prosseguiu...
Hoje continuamos a fazer os possíveis para ajudar os nossos filhos, para que
eles tenham uma vida melhor que a nossa. O Dimitry sabe a nossa
língua, porque foi lá que cresceu. A mudança para cá foi um pouco complicada
para ele: era tudo novo e não consigo sequer imaginar o que ele sentiu por ter de
lidar com a diferença... Com o tempo ele encontrou outros imigrantes do nosso
país, o que o ajudou a integrar-se em Portugal. Já o Diniz nasceu cá, tem
nacionalidade portuguesa, mas anda na escola russa aos sábados, para que não
esqueça a sua origem.
Praia da Crimeia (foto daqui) |
Em agosto planeamos ir à nossa terra, passar férias, aproveitar a altura do
ano que faz mais calor e recordar o nosso mar lindo, os verões de antigamente (quando
as coisas eram quando não tínhamos nada do que temos agora).
Resumidamente, a nossa vida deu muitas voltas e neste momento estamos bastante
felizes com o que possuímos. Tudo correu pelo melhor!
Lyudmila
Kvastikova